sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Kingdom of Heaven

Kingdom of Heaven ("Reino dos Céus" em Portugal, "El reino de los cielos" em Espanha, "Cruzada" no Brasil e em toda América Latina) é um filme inspirado na época das Cruzadas e da retomada de Jerusalém pelos muçulmanos, em 1187. Foi filmado no Marrocos e lançado em 6 de maio de 2005.

No domingo passado, dia 21, assisti o filme Cruzada de Ridley Scott, sempre me interessei pelo tema, pois esta totalmente ligado ao surgimento de Portugal, país de origem do meu avô materno e da Espanha, país de origem da minha avó paterna, ambos que não conheci pessoalmente pois fui criado por um casal de portugueses, e é óbvio que consequentemente também esta ligado com o surgimento de todos os países da América Latina, dai a importância do tema para posterior reflexão e provaveis mudanças de ponto de vista sobre o assunto.

Confesso que imaginava um filme tendêncioso do tipo "em nome do bem contra o mal", esse inclusive foi um dos motivos para ver o filme quase 5 anos após seu lançamento, mas como diz o ditado "antes tarde do que nunca".

É uma película tecnicamente bem feita e que pretende ser politicamente correta. Segundo seu diretor, Ridley Scott, "o filme é sobre a paz, a tolerância e a possibilidade de convivência entre povos de diferentes orientações religiosas, culturas e crenças". Para atingir seu propósito, ele não relutou em manipular fatos e personagens históricos.

É baseada na história real, que se passa no final do século XII, época em que o sultão Saladino, reconquista a cidade de Jerusalém em 1187, que os cristãos da Primeira Cruzada iniciada em 1096 haviam conquistado em 1099 e tranformado em capital de seu Reino Latino de Jerusalém.

Saladino nasceu na cidade de Tikrit (na provincia atualmente chamada Salah ad Din em sua homenagem, no Iraque), onde seu pai Ayyub, era governador. Sua familia era curda, originaria de Dvin na Armênia Medieval (na época sobre controle mulçumano).

Enquanto a Europa atravessava a "era das trevas", o mundo islâmico aprimorava as ciências, na medicina Avicena escreveu a enciclopédia O Cânone da Medicina (título original em árabe: القانون في الطب Al-Qanun fi al-Tibb) o texto árabe do "Cânone" foi traduzido para latim no século XII e a partir de então sua obra foi o principal guia da ciência da medicina no ocidente até o século XVIII, na filosofia Avicena escreveu a enciclopédia O Livro da Cura (em árabe كتاب الشفاء, Kitāb al-Shifā’) e Averróis escreveu a obra Incoerência da incoerência (em arabe: تهافت التهافت Tahāfut al-Tahāfut), na matemática Al-Khawarizmi foi o pai da álgebra e o introdutor do nosso sistema de numeração (algarismos arábicos) e na astronomia Omar Khayyam descobriu o erro do calendário persa que tinha exatos 365 dias. Ele calculou a duração do ano com uma precisão espantosa 365,242196 dias. Seu erro é um dia em 3.770 anos, foi formalmente inaugurado no dia 15 de março de 1079, e é o calendário ainda usados pelos persas.

Os árabes desse tempo assimilaram o conhecimento persa e a herança clássica dos gregos, adaptando-os às suas próprias necessidades e formas de pensamento e esse foi um dos principais motivos das Cruzadas representaram um marco na mentalidade e nas relações de cristãos ocidentais, cristãos orientais, muçulmanos e judeus. Apesar das suas conquistas terem eventualmente sido completamente perdidas, também foi o início da expansão do ocidente que, juntamente com a Reconquista da Península Ibérica, resultaria na aventura dos descobrimentos e no imperialismo ocidental.



Santo Sepulcro

A Basílica do Santo Sepulcro é um local em Jerusalém onde a tradição cristã afirma que Jesus Cristo foi crucificado, sepultado e de onde ressuscitou no Domingo de Páscoa. Constitui um dos locais mais sagrados da cristandade.

Após o futuro imperador romano Tito ter dirigido o exército romano na destruição de Jerusalém em 70 DC, o imperador romano Adriano visitou a cidade em 129-130, ordenando a sua reconstrução segundo um modelo que visava fazer dela uma cidade pagã chamada Aelia Capitolina. Neste sentido, o imperador ordena que o local identificado com a sepultura de Jesus seja coberto com terra e que nele fosse construído um templo dedicado a Vênus.

No mapa abaixo em rosa vemos a divisão provincial do Império Romano na época do Imperador Trajano no ano 117 DC (época que alcançou seu maior tamanho)
O simbolo "estrelado" indica a capital administrativa de cada província.



Em 313 o imperador Constantino I decretou o Édito de Tolerância para com os cristãos (ou Édito de Milão), que implicou o fim das perseguições. Em 326, sua mãe Helena visitou Jerusalém com o objetivo de procurar os locais associados aos últimos dias de Cristo. Em Jerusalém, ela identificou o local da crucificação (a pedra denominada Gólgota) e a tumba próxima conhecida como Anastasis ("ressurreição", em grego). O imperador decidiu então construir um santuário apropriado no local, a Igreja do Santo Sepulcro. Os arquitetos inspiraram-se não nas estruturas religiosas pagãs, mas na basílica, um edifício que entre os romanos servia como local de encontro, de comércio e de administração da justiça.

No mapa abaixo (feito na alemanha) vemos o Império Bizantino no ano de 527 DC (azul), e as reconquistas do Imperador Justiniano I ao Império Bizantino (violeta), os Persas da dinastia Sassânida (amarelo), vassalos do Império Sassânida (laranja), os outros povos estão com cores repetidas e são melhores indentificados pelo nome em alemão que traduzi para o português que são Visigodos (Westgoten), Suevos (Sueben), Bascos (Basken), Francos (Franken), Bretões (Briten), Anglos (Angeln) e Saxões (Sachsen)



Em 614, a igreja de Constantino foi destruída pela invasão dos persas (dinastia sassânida) que roubaram os seus tesouros. A basílica foi reconstruída pelos bizantinos.


Entrada principal para a Basílica do Santo Sepulcro

No mapa abaixo em tons de azul vemos o Império Persa da disnastia Sassânida, o Império Persa foi subjugado pelos árabes muçulmanos; com o assassinato, em 651 do último governante sassânida, Yezdegerd III, seu território foi absorvido pelo Califado que por sua vez absorveu dos persas uma vasta cultura científica adquirida durante suas várias e longas fases imperiais e por ter sido o maior elo de ligação entre a cultura ocidental e oriental.



Em 638, a cidade de Jerusalém passa para as mãos dos muçulmanos. Os primeiros líderes muçulmanos de Jerusalém revelaram-se tolerantes para com o Cristianismo. Porém em 1009 o califa fatimida Al-Hakim ordenou a destruição de todas as igrejas de Jerusalém, incluindo o Santo Sepulcro. A notícia da sua destruição foi um dos fatores que estiveram na origem das Cruzadas.

Em 1099, os Cruzados tomaram Jerusalém e construíram uma nova basílica que, no seu essencial, é a que se encontra hoje no local. A nova igreja foi consagrada em 1149. Debaixo da igreja encontra-se a cripta de Santa Helena, local onde a mãe de Constantino afirmou ter encontrado a verdadeira cruz na qual Jesus foi crucificado.

Com o regresso de Jerusalém ao domínio islâmico, Saladino proibiu a destruição de qualquer edifício religioso associado ao Cristianismo. No século XIV, o local começou a ser administrado por monges da Igreja Católica e por monges Igreja Ortodoxa. Outras comunidades cristãs pediam também a possibilidade de gerir o local (Igreja Ortodoxa Copta e Igreja Ortodoxa Síria).

Primeira Cruzada

A Primeira Cruzada foi proclamada em 1095 pelo papa Urbano II com o objetivo duplo de auxiliar os cristãos ortodoxos do leste e libertar Jerusalém e a Terra Santa do domínio muçulmano.



Segunda Cruzada

A Segunda Cruzada foi proclamada pelo papa Eugénio III em resposta à conquista do Condado de Edessa (um dos estados latinos do Oriente criado durante a Primeira Cruzada) pelo governador muçulmano Imad ad-Din Zengi em 1144. Pregada pelo carismático São Bernardo de Claraval, ocorreu entre 1147 e 1149 e foi a primeira cruzada liderada por monarcas europeus: Luís VII de França, Leonor da Aquitânia e Conrado III da Germânia.

Foi quase um fracasso absoluto: os cruzados não reconquistaram Edessa nem nenhuma outra praça e deixaram o Reino de Jerusalém em uma posição política mais fraca na região; ao atacar a cidade-estado independente de Damasco que pontualmente se aliava aos ocidentais contra outros líderes muçulmanos mais poderosos, ajudaram à unificação do mundo islâmico do Levante sob o apelo à jihad. Isto acabaria por trazer enorme poder a líderes como Nur ad-Din e Saladino, culminando com a conquista de Jerusalém por este último em 1187.

A única vitória para os guerreiros cristãos nesta cruzada foi na Reconquista da Península Ibérica, e deve-se à participação de uma frota na conquista de Lisboa em 1147, sob a solicitação de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal.

Estados Cruzados

Os estados cruzados, ou estados latinos do oriente, foram alguns estados feudais, existentes na sua maioria nos séculos XII e XIII, criados pelas cruzadas dos reinos da Europa Ocidental na Ásia Menor, Grécia, Síria e Terra Santa (atuais Israel e Palestina).

Os primeiros quatro estados cruzados foram criados no Levante imediatamente após a Primeira Cruzada:

* Condado de Edessa, fundado em 1098, perdido em 1144
* Principado de Antioquia, fundado em 1098, perdido em 1268
* Reino Latino de Jerusalém, fundado em 1099, perdido em 1291, quando a cidade de Acre caíu.
* Condado de Trípoli (na atual cidade do Libano, não na capital da Líbia), fundado em 1104, a cidade de Trípoli foi conquistada em 1109 mas o condado só foi perdido em 1288

O Reino Armênio da Cilícia originou-se antes das cruzadas, foi um estado formado por refugiados armênios das invasões dos turcos seljúcidas à Armênia. Ao contrário do Reino da Armênia da antiguidade clássica, localizava-se ao redor do golfo de Alexandreta do mar Mediterrâneo, no atual sul da Turquia, não na atual República da Armênia, e permaneceu independente de 1078 a 1375.

O reino foi fundado pela dinastia dos rubenidas, um ramo dos bagrátidas, que detiveram por diversas vezes os tronos da Armênia e da Geórgia. Inicialmente com a capital em Tarso e posteriormente em Sis (atual Kozan), a Cilícia foi um forte aliado dos cruzados europeus e considerava-se um bastião do cristianismo no Oriente Médio. Também serviu como ponto focal do nacionalismo e da cultura dos armênios, cuja nação original se encontrava sob o domínio muçulmano.

Veja nos dois mapas abaixo situação política dos estados cruzados no Oriente Médio antes e depois da Batalha de Hattin de 1187, com os estados cruzados em tons de verde, o primeiro mapa de 1135 e o segundo mapa de 1190.





A partir de 622 Maomé lidera a unificação das tribos da Arábia por meio do islamismo e da língua árabe e domina toda a Peninsula Arábica, e expansão continuou com os quatro primeiros califas que sucederam a Maomé após sua morte no ano 632, Abu Bakr (632-634), Umar ibn al-Khattab (634-644), Uthman ibn Affan (644-656) e Ali Ben Abu Talib (656-661), obtiveram uma rápida e grande expansão territorial atingindo o apogeu com a Dinastia Omíada (661-750), este Império Árabe, foi o maior Estado da história até aquele momento, estendendo-se desde a Península Ibérica até o rio Indo, e do Mar de Aral até a ponta sul da Península Arábica. Os Omíadas serviram-se dos sistemas administrativos persa e bizantino e transferiram a capital para Damasco, no centro de seu império. A divisão em Estados independentes e as divergências entre as seitas islâmicas dos sunitas e dos xiitas provocaram a sua decadência.

Nos livros de história do Brasil era comum ser exibido o mapa do apogeu do império Romano por inteiro, mas nunca o do Império Árabe na sua totalidade, devido é claro, a nossa colonização ibérica (Portugal e Espanha surgiram com ajuda dos Cruzados), geralmente só mostravam mapas dos mouros ocupando apenas a parte norte do atual Marrocos (que era uma autêntica ponta de Iceberg quando comparado com sua área total na época), veja o mapa abaixo para ver todo o Iceberg.



Ufa, chega de tantas batalhas e mudanças de poder, você achou que eu mostrei muitos mapas? Se fosse para colocar só dos povos independentes que existiram nas regiões desses conflitos, do início da era cristã até a época das Cruzadas teria que colocar os mapas do Império Parto (247 AC-224 DC), Reino Suevo (409-585), Reino Visigodo de Toulouse (418-507), Reino Visigodo de Toledo (507-711), Califado dos Abássidas (750-1258), Califado dos Fatímidas (909– 1171), Califado de Córdoba (929–1031), etc, etc, ao invés disso resolvi parar por aqui e mostrar uma espécie de mapa que vocês nunca viram em livro, é um mapa geral do mundo no ano de 750 depois de Cristo, o ano da queda do califado Omíada (exibido no mapa anterior), que por conhecidência retrata todo o mundo civilizado de 750 anos antes do descobrimento do Brasil, da para visualizar que enquando os povos do velho mundo se matavam por causa da política e da religião a "maioria" dos povos pré-colombianos (nomeados pelos europeus pelo vulgar nome de índios) estavam tranquilos criando suas famílias, pescando, caçando, pegando fruta no pé, nadando, tomando sol e descançando, nem passava pela cabeça que um dia os mesmos "defensores da fé" iriam chegar pelo mar para tirar o sossego e a liberdade deles, e ainda por cima os cruzados do além mar (portugueses e espanhois) diziam trazer o "bem" e expulsar o "mal", pura hipocrisia, os povos indigenas que se recusavam em ser escravizados foram eliminados do mapa, depois de 510 anos da chegada dos "cruzados" na América estamos numa verdadeira "encruzilhada" e no sentido figurativo muitos dos povos cristianizados naquela época começaram a carregar uma pesada cruz por várias gerações, "só não vê quem não quer", vejam o mapa e reflitam meus "caros amigos", e me respondam quem vivia melhor os povos do velho ou do novo mundo daquela época?



Fonte: Wikipédia nas versões em português, espanhol, inglês e alemão.

4 comentários:

  1. Olá meu grande amigo, fiquei feliz por saber que voce também gosta e estuda história.Li seu texto e o achei interessante com um teor de pesquisa muito bem elababorado.Também este é um dos meus filmes favoritos " A Cruzada", no qual destaco uma frase dita logo no começo do filme. " Que homem é o homem que não faz o mundo melhor" por semanas refletimos sobre esta frase.Acho que pelo pouco que te conheço, esta deve ser sua filosofia de vida, sempre tentando melhorar o planeta, e que bom se existisse um "exécito de Marcos Vianas" o mundo seria pelo memos, no mínimo mais justo.Continue nesta cruzada e conte comigo nestas batalhas.Do seu amigo Felix- São Mateus.

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  2. "Sr. Marcos sempre que atualizar seus textos por favor nos avise, vamos imprimi-los e colocá-los em nossos quaadros de aviso, adoramos ler principalmente nos intervalos de almoço, nem todos por aqui possuem micro e todo conhecimento será bem recebido.Forte abraço" Galera da Ford Motor Brasil SBC. (amigos do Félix)

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  3. Um verdadeira aula de História, principalmente sobre os primórdios até a Idade Média, mostrando de forma clara e direta os acotecimentos e argumentos e dando um enfoque muito mais consistente do que são publicados em livros..Realmente vc esá de parabéns com sua iniciativa...Ao ponto de querer pegar os mapas para o meu uso de cunho profissional, inclusive !!!!

    Abraços, Pinguim !!! =)

    Por Rodrigo Prol =)

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  4. Super postagem. Super blog. Vc deveria continuar postando, nem q fosse uma postagem por mês. Aula de História! Uma pesquisa rica e detalhada!

    Qto ao filme, achei um lixo! O eterno modelo americano (Orlando Bloom, PÉSSIMO!), um ferreiro todo limpinho, que sai do povão para se tornar um herói cheio de discursos. O roteiro é longo e cansativo. Ótimos atores como Edward Norton e Liam Neeson subaproveitdos.

    É um filme que deveria ser feito sem a influência hollywoodiana.

    Me fez lembrar de dois filmes ótimos (mas que não entram muito nesse contexto histórico): "Othelo", e "A Fonte da Vida".

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